Cinese Cia. de Dança: Trilhos da Terra

Contemplados no Prêmio Célio Adolfo de Incentivo a dança 2013, na categoria Novos Criadores, estamos desenvolvendo o espetáculo intitulado “Trilhos da Terra” , onde está sendo desenvolvido um trabalho com o olhar no perfil histórico da música em Mato Grosso do Sul, suas mudanças com o decorrer da trajetória cultural do estado e o advento de grupos musicais com propostas diversificadas, salientando um novo jeito de olhar a música sul-mato-grossense e suas influências na conjuntura contemporânea.

Assim, no ano de 2012 começamos um trabalho investigativo embalados pela pesquisa de corpo, propondo aulas diversificadas com os membros da Cia., desde aulas de ballet clássico e técnicas contemporâneas de dança a dois à aulas de teatro e expressividade no palco. Tentamos compreender e interpretar o percurso de formação da nossa Cia. de bailarinos, analisando este processo eclético de uma nova forma. Apesar desta diversidade, a busca da singularidade para formar essa identidade como Cia. e incluí-las ao trabalho da música traz consigo a ideia de reconstruir não somente a corporeidade das danças de salão, mas também a música sul-mato-grossense como reflexão da nova cultura social.

Nas intervenções durante os ensaios e o processo coreográfico, verificamos a multiplicidade de trabalhos musicais no estado, mas tratamos com prioridade artistas do cenário pioneiro. Trabalhamos em um conjunto de obras musicais a examinar o corpo, suas possibilidades e singularidades relacionadas à cultura do estado, ao comportamento social do sul-mato-grossense e à cultura musical muitas vezes desconhecida por nós, habitantes desse estado marcado de pluralidades musicais, culturais, sociais, e corporais.

Ainda que a princípio o foco seja no cenário pioneiro, estudamos a ligação e a relação entre estes e a nova cena musical e cultural do estado. Temos como base principal a dança de salão para desenvolver a seguinte temática: “O desenvolvimento da música em Mato Grosso do Sul e suas novas relações sócio-culturais”, pesquisando a música do Estado desde artistas pioneiros até os mais recentes, percorrendo a trajetória da música desde 1960, apresentada por meio da dança e relacionando-a aos novos movimentos musicais.O experimento que estamos propondo vem também buscar auxílio em fontes de pesquisas teóricas, e um dos livros adotados para esse estudo é “Os Pioneiros” de Rodrigo Teixeira e do “Acervo Musical”, o documentário “Geração 10” de Alexander Onça, André Patroni e Kleomar Carneiro, além de discos, entrevistas, pesquisas de campo e questões semânticas e sociolinguísticas intrínsecas ao estudo da letra das músicas e à cultura popular do estado. Farão parte da dramaturgia e da trilha sonora, composições de músicos que produziram e/ou produzem arte e contribuem para a cultura local, já que levam muitas influências do Estado em suas composições e produções musicais.

O tema nos revela e surpreende diante das pesquisas devido à riqueza de produções, e quando acompanhamos o crescimento da música durante tempo, verificamos a dinamicidade desses novos trabalhos na contemporaneidade. Com o livro “Os Pioneiros” traçamos um paralelo para discutir no espetáculo a mudança na qual a música sul-mato-grossense é impulsionada. Em uma das citações do livro, Delinha comenta sobre a década de 60: ‘Nós ficamos na Rádio Bandeirantes por cinco anos e um mês sem ganhar nada. Só para fazer nome. Eu não sei se alguém ganhava. A gente tinha medo de perguntar.’ No documentário “Geração Dez”: ‘Com as tecnologias atuais, passou a ser possível encher bares com gente a fim de ouvir músicas feitas aqui. É possível ver mais pessoas ouvindo em casa e cantando, de cor, as músicas feitas aqui.’Nas movimentações corporais o público poderá ver o tradicional ser mesclado com o contemporâneo, refletindo sobre a diversidade cultural e a riqueza da música sul-mato-grossense, expondo a influência sertaneja (no trato do pioneirismo e como composição da história musical) e principalmente os diálogos com essa tradição local como blues e a polca rock.

Objetos cênicos, trilha sonora e figurinos contemporâneos e singulares farão parte de um contexto que aproximará a proposta de pesquisa ao resultado final do espetáculo não deixando de lado o trato com o corpo e a dança a dois, linguagem essa que já vem sendo utilizada por Cias brasileiras, como a Mimulus Cia de dança. Mesmo assim, fazemos um mergulho profundo nas possibilidades adquiridas com nossas particulares experiências com as danças de salão para promover uma identidade enquanto Cia. sul-matogrossense de dança.

Embalados por um espetáculo com a cultura e a expressividade do nosso povo, aliado à diversidade do público espectador-reflexivo peça chave do espetáculo, sustentamos o sentido de se entender os possíveis significados que se podem alcançar com o espetáculo, mas não como algo cravado ao espectador de forma inalterável. Escolhemos assim, tratar menos do entendimento desses significados e mais da construção de sensações, que são formulados pelo espectador no diálogo que será enredado com nossa proposta.

Teasers:

Trilhos da Terra #1